sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Caio, Maitê, amor e relações.

O amor da minha vida eu já encontrei, tem nome, é de carne e osso e me ama também. Agora falta encontrar alguém com quem eu possa me relacionar. É que o homem da minha vida não cabe em mim, e eu não caibo nele. Não basta que a gente se queira há anos. Pra mim, não presta que ele me visite pra acabar com as saudades e depois saia correndo, se esconda e fique pernas bambas.

Não tem sido suficiente o amor para se viver um amor. Eu e ele temos sido as Cruzadas da Idade Média, o Osama e o Tio Sam; o apartheid, o Feitiço de Áquila... Sua dúvida me perturba e a minha clareza o ofusca. Tenho fascínio pelo plutão que ele habita e ele vive intrigado pela minha Vênus, mas, quando eu falo vem, ele entende vai, ele olha o mar enquanto eu avisto a montanha.... Quando eu peço paz, ele quer guerra. Preciso explicar cada centímetro do meu caminho e no final continua sem entender nada.

Temos discordado sobre o tempo, sobre a cor das persianas, sobre os telefonemas não dados, sobre as mágoas guardadas. O desacerto é de lascar, e não dormirei nunca mais com ele porquê não há cama que resista a tanta confusão: um dia a cama cai.

A gente vive, amadurece, a gente fica cada vez melhor e entende que nem todo amor passa com 3 meses. Entende também, o texto de Chico, dito pela cafetina Vitória lá na Ópera do Malandro, anos atrás:

... o amor não é um ócio
o amor não é um vício
o amor é sacerdócio
o amor é sacrifício...
 
Pensando nisso, decidi: não quero mais o amor da minha vida ocupando o lugar de amor da minha vida. Há de haver um amor tão bom quanto, que me desperte coisas boas me esperando em alguma esquina desse mundo, talvez no ônibus ou na mesa ao lado. Alguém que faça com que eu me sinta novamente um pão quente com manteiga: alguém pra quem eu me derreta toda e diga: sirva-se!

Haverá alguém pra apreciar o meu carinho, que goste do meu cheiro, suporte a minha tpm, acredite na minha terapia, alguém que ainda queira cuidar de mim. Na verdade, as qualidades podem até variar, mas depois de tudo que eu vivi, existem defeitos que considero indispensáveis. 

Meu amor tem que ter um certo ciúmes de mim e reclamar quando eu precisar viajar pra longe. Deve se meter com a minha roupa, implicar com meu corte de cabelo, achar que eu sou bagunceira, distraída e que eu não sei dirigir. E, toda vez que ele se surpreender: poxa, vc fez isso tudo sozinha? eu direi que foi um milagre! Este amor deve me pedir pra cozinhar, levar nosso filho na escola, chegar mais tarde no trabalho na segunda feira pra sentir meu cheiro por mais duas horinhas. Deve querer nosso lar impecável e cheio de flores, e é indispensável que se aborreça quando isso não acontecer. Ele irá me buscar no trabalho e me leverá direto pra casa, nada de madrugadas na rua! Desejo enfim que meu amor me reprima um pouco, e que me tolha as liberdades - esse vôo alucinante e sem rumo anda me dando um cansaço danado.

...num instante acho que vou morrer
no outro me sinto plena olho para minhas pernas e busco resquícios do amor que um dia me fez. não acho.
E sinto.
E sinto a falta que você me faz.

E o meu pequeno, estranhando a falta dos meus sorrisos durante algum tempo, me pergunta:
- Mãe, porquê alguém te faz chorar e vc fica triste assim? 
- Porquê no amor a gente tem que fazer tudo que puder pra dar certo.
- Mãe, você fez o que podia?
- Sim, agora sim.
- Então da próxima vez que você quiser chorar, se lembra que você já fez tudo que podia e não fica mais assim, eu estou aqui.

Não sei de onde essas coisinhas tiram tanta maturidade nesses momentos, mas não é que ele tem razão? Poderia ser simples assim, mas e aí? Como eu poderia sentir tantas coisas?

Sim, e Maitê Proença? Aí é que tá, fora o homicídio assistido, ela sou eu com maturidade e olhos verdes.